18 de fevereiro de 2018

Estudando o Episódio do Bezerro de Ouro



Por Everton Edvaldo

Leitura bíblica: Êxodo 32.1-14

Introdução: As passagens bíblicas estão repletas de ensinamentos e de detalhes que revelam verdades a respeito de Deus e de nós. Quando nos dedicamos e nos aprofundamos em estudar as Escrituras, entendemos que aquilo que aconteceu no passado de alguma forma traz impacto para nossa vida no presente. Hoje estudaremos a passagem que fala do "Bezerro de Ouro." Todavia, antes vamos apresentar um panorama do livro de Êxodo afim de elucidar e de nos situarmos dentro da passagem ao qual estudaremos; depois veremos o contexto histórico em que Êxodo 32.-14 está inserido e por fim, quais lições e verdades práticas podemos extrair a partir desta passagem. Boa leitura!

I- PANORAMA DO LIVRO DE ÊXODO:

1. Quem escreveu? (Autor). A tradição judaica aponta Moisés como o escritor da Toráh (os 5 primeiros livros da Bíblia), incluindo Êxodo (Saída).

2. Quando escreveu? (Data). Os estudiosos mais conservadores datam a escrita de Êxodo por volta de mais ou menos 1445-1405 a.C.

3. Para quem escreveu? (Destinatário). Embora atualmente tenha alcançado milhares de pessoas em todo o mundo, é sabido que o público alvo primário de Êxodo eram os judeus e a sua posteridade, isto é, o povo Israelita.

4. Onde Escreveu? (Lugar). É quase unânime entre os estudiosos, a afirmação de que Moisés escreveu o livro de Êxodo no deserto.

5. Porque escreveu? (Propósito). De modo geral, podemos falar que o propósito de Moisés ao escrever o livro de Êxodo foi registrar e revelar a vontade de Deus para os israelitas com o objetivo de que eles passassem a observar as leis que o SENHOR os havia entregado.

6. Assuntos principais. São vários os assuntos abordados por Moisés, entretanto vamos destacar aqui apenas dois:

A) Libertação do povo de Israel (Saída do Egito).

B) Estabelecimento das leis (Cerimoniais, Civis e Morais).

II- CONTEXTO HISTÓRICO:

Entraremos agora em Êxodo 32 propriamente dizendo, e para compreendermos a passagem, vamos pintar um pouco do cenário daquela época, respondendo algumas perguntas:

Onde Moisés estava? O versículo 1 localiza Moisés no monte (chamado de monte Senai em Exôdo 19.18 e Horebe em Deuteronômio 4.10-15).

O que ele estava fazendo no monte? Moisés não estava ali sem razão, mas sim porque Deus o convocou para anunciar aos Israelitas a sua vontade (Êxodo 19.1-25).

E o povo de Israel, onde estava? Êxodo 19.17 informa que Moisés levou o povo para fora do acampamento e eles ficaram na base do monte. (Cf Ex 20.21).

Desde o capítulo 19 até o 32, o cenário gira em torno deste episódio que durou 40 dias e 40 noites (Êxodo 24.18).

A Bíblia diz que vendo que Moisés demorava para descer, o povo de Israel pediu para que Arão (seu irmão) fizesse um deus que fosse à frente deles, pois não sabiam o que havia acontecido a Moisés. Então Arão pediu que entregassem seus brincos de ouro e recebendo-os derreteu, fazendo um bezerro de ouro e declarou que este os havia tirado da terra do Egito. E mais, fez um altar e disse: Amanhã haverá festa ao SENHOR. No outro dia, se levantaram cedo e sacrificaram ao bezerro de ouro e depois se divertiram.

Porque o povo fez isso? A resposta é simples! Lembremo-no de que Israel passou mais de 400 anos no Egito, e apesar de não habitar no meio dos egípcios, sofreu consideráveis influências por parte deste povo. Para Israel, Moisés (o profeta de Deus, ou seja, alguém responsável por trazer a voz de Deus ao povo), representava o próprio Deus entre eles, e uma vez que Moisés havia sumido, eles se viram sem Deus à frente deles, por isso, sem líder e sem Deus, pediram para Arão fazer um deus para si para que fosse à frente deles. Isto porque a mentalidade daquela época era: um povo sem uma divindade é um povo entregue à ruína.

Interessante que nem mesmo as claras leis de Deus contra a idolatria foram obedecidas mas negligenciadas e esquecidas. 

Fazendo um deus para si, Israel:

A) Quebra um acordo oral feito há poucos dias com Deus (Êxodo 19.7).

B) Quebra dois dos dez mandamentos (Êxodo 20.3-5).

C) Quebra a lei de oferecer sacrifícios somente ao Senhor, pecado este inclusive digno de morte (Êxodo 22.20).

III- O DIÁLOGO DE DEUS COM MOISÉS:

Então Deus relata a situação a Moisés (que estava monte e não sabia o que estava acontecendo). Deus fala que Israel havia se corrompido e desviado do caminho que Ele havia ordenado e que este povo era muito obstinado.

O termo usado por Deus para "corrompeu" é sahath e significa aqui "deteriorado", "arruinado", "perdido", "prejudicado", "danificado", "pervertido", "corrupto".

Para "desviado", ele usa sur que significa "rebelado", "afastado", "deixou de lado", "virar-se", "dar as costas", "ir embora", "partir".

Dito isto, Deus propõe a Moisés que deixasse que Ele destruísse Israel e fizesse dele uma grande nação. Quanto a este ponto, não cabe a nós neste estudo, entrar no mérito de como esse tipo de linguagem de Deus de pedir a Moisés que deixasse-o destruir Israel não entra em choque com a soberania dEle. O ponto crucial aqui não é este mas sim: Deus estava para destruir Israel.

Então a Bíblia diz que Moisés suplicou, ou seja, intercedeu ao Senhor seu Deus e agora vamos mostrar quatro argumentos que Moisés usou para que Deus nao destruísse Israel:

1- Moisés pergunta porque Deus destruiria o seu povo? (v. 11). Deus disse no versículo 7 que povo era de Moisés, e no versículo 11 Moisés diz que o povo era de Deus. É como se Moisés tivesse dizendo: porque o SENHOR se ira? O SENHOR é que é o proprietário deles e não eu. Não é qualquer povo que está jogo, é o teu povo! 

2- Moisés pergunta porque Deus destruiria o seu povo que Ele mesmo tirou do Egito com grande força e com mão forte? (v. 11). No versículo 7, Deus diz que Moisés tirou o povo do Egito, mas no versículo 11, Moisés diz que foi o SENHOR quem os tirou de lá com mão forte (cf Êxodo 19.4; 20.2; 29.46). Ou seja, como irás destruir o teu povo que o Senhor mesmo tirou da terra do Egito com mão forte?

3- Moisés pergunta porque Deus permitiria que os egípcios dissessem que Ele tirou os israelitas de lá para fazer o mal e matá-los (v. 12). 

Até aqui podemos extrair algumas lições para nossas vidas.

A primeira é no que diz respeito a ausência de Moisés entre o povo de Deus. Ou seja, a ausência de um homem de Deus dá oportunidade para o caminho da corrupção. Este é um princípio válido para os dias de hoje. Porque será que muitas igrejas estão se corrompendo? Porque os homens de Deus estão distante das suas dores e das suas necessidades. Homens de Deus precisam estar perto das suas ovelhas.

Outra coisa: Pior que ter homens de Deus distantes é ter homens por perto que contribuem para a corrupção do povo. Este é o caso de Arão que devia repreender o povo porém satisfez seus desejos. Muitos líderes da atualidade dão ao povo o que eles gostam e não o que Deus quer. Triste este tipo de comportamento porque a vida de um líder influencia a vida dos liderados direta e indiretamente. Este é o caso por exemplo da monarquia de Israel, onde a saúde espiritual do rei refletia na saúde espiritual do povo.

A segunda lição diz respeito a Deus estar observando os atos de Israel enquanto Moisés estava no monte. Isto é, todas as nossas ações são observadas por Deus e nada escapa dos seus olhos. E mais: toda ação humana tem uma reação divina. Atentemos seriamente para esta verdade, pois nada foge dos olhos de Deus.

A terceira lição que podemos extrair, é quando Moisés vai interceder num momento delicado. Mais adiante veremos como a intercessão é importante, mas veja como Moisés se comporta diante de uma situação adversa. Isto vale como exemplo para nós, isto é, devemos  sempre recorrer ao Senhor quando "a coisa ficar preta", principalmente quando algo se levantar para ameaçar nosso futuro.

A quarta lição, é quando Moisés diz que o povo é de Deus e que foi ele que os tirou do Egito e não incentiva Deus a destruir o povo de Israel para fazer dele uma grande nação. Aqui, Moisés abre mão de qualquer mérito e privilégio em razão da ruína dos outros. Apesar de Moisés ter sido chamado para ser líder, claramente podemos notar que ele tinha um coração de servo. Que exemplo memorável! Quantas pessoas hoje em dia que para crescer, estão dispostas a ver o mal e a queda de alguém. Moisés não queria ver a queda do seu povo, mas a sua restauração. 

No final do terceiro argumento Moisés diz para Deus:

"Volta-te da tua ira ardente e arrepende-te desse castigo contra o teu povo." (v. 12).

Isto revela o nível de intimidade que Moisés tinha com Deus. Vale lembrar que esse tipo de linguagem só foi usava por Moisés porque o próprio Deus se colocou a disposição dEle. Isto é totalmente diferente das pessoas que hoje querem ensinar Deus a trabalhar e isto geralmente, é feito da pior maneira possível: não possuem intimidade, não sabem dialogar com Deus e fazem tal prática de forma irreverente.

Então, o que está escrito neste versículo não nos encoraja a ensinarmos Deus a trabalhar, mas a termos um nível de intimidade tão grande com Ele a ponto de quando Ele se colocar à nossa disposição, nós apresentar-mos os nossos argumentos perante Ele. Notou a diferença?

As palavras de Moisés também estão recheadas de um pouco de coragem e também de ousadia. Ao que tudo indica no texto, Deus não se incomodou com as palavras dele.

4- Moisés fala para que Deus lembre-se de Abraão, de Isaque e de Jacó. Ele jurou que multiplicaria a descendência deles como as estrelas do céu. Aqui Moisés está colocando em evidência e como argumento final a questão da incondicionalidade da promessa de Deus feita aos patriarcas. É como se ele estivesse dizendo: foi a eles que o SENHOR jurou que iria multiplicá-los e não a mim, eu estou apenas inserido nesta promessa.

O versículo 14 é incrível! Fala que o Senhor se arrependeu do castigo que disse que traria ao seu povo, derramando mais uma vez a sua misericórdia sobre eles. Ou seja, Deus atendeu a intercessão de Moisés, não primariamente por amor a ele, mas sim em razão do amor pelo seu próprio nome e caráter e por fim e não menos importante, através da súplica do seu servo. 

O que podemos aprender com tudo isso?

Primeiro, que não importa qual seja o problema, quem tem intimidade com Deus encontra solução Nele para todo e qualquer tipo de ameaça que surgir. 

Segundo, a nossa comunhão com Deus gera efeitos em Deus, em nós e nas pessoas que estão ao nosso redor. Lembre-se que a petição de Moisés foi atendida, de maneira que Deus deixou de fazer o que estava para fazer, ou seja, surtiu efeito em Deus. Também surtiu efeito no próprio Moisés que passou a enxergar Deus ainda mais grande e misericordioso e por fim, no povo que iria ser destruído e não foi. Assim é na nossa vida, a oração de um justo pode muito em seus efeitos (Tg 5.16). Portanto, caro leitor, interceda, faça o que está ao seu alcance e deixe os resultados com Deus. As tuas orações (quando atendidas), surtem efeitos em Deus, em você e nas pessoas que estão ao seu redor seja na sua família ou não.

Terceiro, o Deus ao qual nós servimos leva em consideração as nossas palavras e se dispõe a derramar da sua misericórdia sobre nós novamente.

O povo era digno de ser destruído pois havia transgredido os mandamentos de Deus, todavia Ele optou por usar da sua misericórdia sobre eles novamente. Se Deus tivesse destruído Israel e quisesse levantar de Moisés uma grande nação, não estaria incorrendo em nenhum erro, mas satisfazendo a sua justiça imediata. Contudo, sua misericórdia se mostrou ativa no momento em que os israelitas mais careciam dela.

Este é um claro exemplo de que devemos interceder por aqueles que necessitam de misericórdia, principalmente por aqueles que estão no mundo sem salvação e já estão condenados.

A passagem começa com corrupção e termina com misericórdia para mostrar que a restauração de Deus está ao nosso alcance.

Conclusão:  Sem dúvida, o foco dessa passagem está na intercessão. A intercessão de quem tem intimidade abre as portas para que a solução de Deus desça sobre os problemas que surgem. Por isso, não importa qual seja a dificuldade que esteja na sua vida, ore! Deus está de prontidão para te atender e melhorar o seu relacionamento com Ele. Que Deus te abençoe!