23 de novembro de 2016

Série: Tesouros do Jardim do Éden



 Por Everton  Edvaldo 


É incrível como somos abençoados quando meditamos nas Escrituras. Não é à toa que cada narrativa bíblica tenha tanta coisa para nos ensinar. O jardim do Éden é um desses casos. Lá aconteceram episódios marcantes que muitas vezes deixamos de notar por negligenciar o estudo e a meditação bíblica. É verdade que a Bíblia não revela muita coisa que aconteceu no jardim do Éden, porém aquilo que foi registrado já é suficiente para nossa edificação. A Bíblia pode até não satisfazer todas as nossas curiosidades, mas certamente, dará pistas para nossas indagações. Nesse artigo, vamos meditar sobre um dos tesouros desfrutados por Adão no Jardim do Éden, a saber: a voz de Deus! Espero graciosamente que você seja edificado por Deus através desse artigo. Boa leitura!

Ao criar o homem, Deus lhe deu condições físicas e espirituais afim de relacionar-se com a humanidade. Podemos constatar essa verdade logo nos primeiros capítulos do livro de Gênesis.

Porém, antes disso, Deus traz à existência (pelo poder da sua palavra), o universo, nosso planeta e tudo quanto existe nele. No momento em que fez o homem do pó da terra, soprou em suas narinas, o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente (Gênesis 2.7).

É interessante a forma como Deus faz as coisas. Ele poderia ter colocado Adão em qualquer outro lugar, porém decidiu fazer algo ainda mais glorioso, isto é, o jardim do Éden! É lá que Deus põe o homem  que havia formado (Gênesis 2.8). Colocou Adão ali para cultivar e guardar este lugar tão belo. Esta era a missão de Adão!

Prosseguindo com a leitura bíblica de Gênesis 2.16,17 Deus fala com Adão as seguintes palavras: "De toda árvore do Jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque, no dia em que dela comerdes, certamente, morrerás."

Que cena gloriosa, a criatura ouvindo a voz do seu Criador!  Embora não saibamos exatamente em que lugar do Jardim, Adão estava, muito menos a distância entre ele e Deus, uma coisa é certa: ele ouviu a voz de Deus e a compreendeu.

Desconhecemos a reação que Adão teve com tal experiência, porém cremos que lhe marcou por todos os dias da sua vida.

Existem boas razões para afirmar que Deus falava constantemente com Adão. A Bíblia não revela quantas vezes foram, nem o conteúdo dessas conversas. Entretanto, isso não significa que aquilo que Deus disse a Adão se limitou apenas ao que foi escrito por Moisés. Temos que entender que o autor do Gênesis não tinha como objetivo relatar todos os detalhes do dia a dia de Adão.

Por outro lado, podemos depreender a partir de Gênesis 3.8 que Deus falava frequentemente com Adão pela viração do dia. Era dessa forma que a voz de Deus ecoava no jardim! As Escrituras nos permite concluir que a voz de Deus é algo majestoso! Imagine conversar com Deus sem nenhuma barreira? Isso não é fantástico? 

É provável que Deus tenha revelado coisas gloriosas para Adão, como por exemplo, a criação dos céus e da terra. A pergunta que devemos fazer é: quem contou a Moisés que os céus e a terra foram criados por Deus? Alguém dirá: "foi pura revelação." Bem, os que creem dessa forma não apresentam bons argumentos para fundamentar tal visão. O livro de Gênesis é um documento histórico e bem formulado. Acredito particularmente que Moisés recebeu tais informações a partir de uma fonte segura em sua época. Se ela foi escrita, oral ou até mesmo as duas, é um assunto digno de investigação. Antes mesmo de Moisés existir, seus ancestrais e parentes conservavam vivos a crença de que Deus é o criador dos céus e a terra. Isto significa que Moisés não foi o primeiro a saber disso. Antes dele, outros já acreditavam nessa verdade. Mas, quem revelou aos seus ancestrais que Deus é o criador dos céus e da terra? Retrocedendo no tempo, a família piedosa que viveu antes de Moisés, também mantinha acesa o conhecimento das coisa Deus, a saber: os descendentes de Abraão. José aprendeu com seu pai Jacó. Jacó aprendeu com Isaque. Isaque  com Abraão e Abraão com os descendentes de Noé. Noé aprendeu com a descendência de Sete e Sete com Adão. Sim, enquanto viveu, Adão ensinou aos seus descendentes que Deus é o criador dos céus e da terra. Novamente deve-se fazer a pergunta: quem revelou isso a Adão? Quem lhe relatou os acontecimentos registrados em Gênesis capítulo 1? Ele estava lá?  Não!  Será que ele inventou tudo isso? Também não!  E quem lhe contou? Quem mais poderia lhe contar a não ser o próprio Deus? Creio que Deus não escondeu de Adão  esse acontecimento tão incrível. Deve ter sido uma cena magnífica ouvir a voz de Deus contando como criou todas as coisas através da sua Palavra.

Bem, diversas coisas aconteceram no jardim do Éden e entre elas, o hábito de ouvir a voz de Deus. Adão não ouvia qualquer voz! Era a voz do Todo-Poderoso!  Em qual idioma eles conversavam?  Não sabemos! Eles mantinham um tipo de diálogo peculiar e pelo que entendemos,  Deus se agradava muito. Sim, Deus se agradava de conversar com Adão. Provavelmente lhe dava instruções de como cuidar do jardim, dos animais, das árvores, o clima, e etc.

Refletindo sobre as coisas que vimos acima, aprendemos que a voz de Deus é algo essencial para quem depende totalmente Dele. O SENHOR procura homens e mulheres para ter um relacionamento especial e íntimo. Será que somos sensíveis à voz de Deus? Bem sabemos que Deus fala de diversas formas e de várias maneiras e nestes últimos dias, ele tem nos falado através do seu filho, Jesus Cristo. Através do verbo, o Pai tem feito uma grande obra entre nós.

Por fim, embora não tenha sido o único, o jardim do Éden era um lugar propício para que Deus falasse com o homem. Na atualidade, será que Deus tem encontrado lugares propícios para ouvir a sua voz?  Infelizmente, até mesmo algumas igrejas já fecharam os ouvidos para a voz de Deus.  Ali, há tempo e espaço para tudo, menos para a voz do Criador. No lugar onde estamos, há espaço para a voz de Deus? Muitas vezes, existem determinados lugares que nos impedem de ouvir o Senhor e de ter um relacionamento com Ele. São coisas que roubam nossa atenção, trazem entretenimento e que são nocivas à nossa sensibilidade espiritual.

Sendo assim, não podemos deixar que isso venha acontecer. Que estejamos sempre atentos à voz do SENHOR!

Que Deus abençoe a todos!

18 de novembro de 2016

Calvinista ou Arminiano? Uma palavra de A.W. Tozer


Por Everton Edvaldo 

Não é de hoje que a soteriologia bíblica tem sido alvo de estudo e interesse pelos cristãos. Desde a igreja primitiva, controvérsias em torno da mecânica da salvação foram se avolumando ao longo da história. No calor das concordâncias e discordâncias, aparecem aqueles que são corajosos e se rotulam como isto ou aquilo. 

Isto não significa que a interpretação do sistema A ou B seja  ausente de erros, mas sim que a pessoa acredita que a interpretação de determinado sistema está mais próximo daquilo que a Bíblia defende e ensina. Quando se trata da mecânica da salvação, encontramos aqueles que se definem como calvinistas ou arminianos. 

Por outro lado, existem aqueles que preferem não se rotular como nem um, nem outro. Por exemplo, embora tenham crenças comuns com o arminianismo, alguns não gostam de ser chamados de arminianos, porém de "bíblicistas", ou simplesmente de "não calvinistas."

Ao longo do tempo, grandes teólogos vivenciaram essas tensões teológicas e se posicionaram como  simpatizantes do arminianismo ou calvinismo. Outros escolheram a neutralidade quando se tratava de responder a pergunta: "Você é calvinista ou arminiano?" Bem, essa pergunta tem sido feita intensamente na atualidade. Esse tipo de pergunta, exige uma resposta, seja ela satisfatória para nós ou não.

Neste artigo, pretendo apresentar a visão de A.W. Tozer acerca de tudo quanto vimos acima. Tozer, que foi considerado por muitos, como "o profeta do século XX", é uma referência piedosa para milhares de cristãos.

Antes de desenvolver o artigo, gostaria de disponibilizar uma breve introdução sobre quem foi este homem de Deus.

"Aiden Wilson Tozer nasceu em Newburg (então conhecido como La Jose), Pensilvânia, a 21 de abril de 1897. Em 1912 a família mudou-se da fazenda de Akron, Ohio; e em  1915 ele converteu-se a Cristo, entrando imediatamente numa vida de grande intensidade devocional e testemunho pessoal. Em 1919 começou a pastorear a igreja da Aliança em Nutter Fort, em West Virgínia. Também serviu em igrejas nas cidades de Morgsntown, West Virginia; Toledo, Ohio; Indianapolis, Indiana; e em 1928 iniciou seu trabalho na igreja da Aliança em Chicago (Southside Alliance Church). Ali serviu até novembro de 1959, quando tornou-se pastor da igreja Avenue Road em Toronto. Um repentino ataque cardíaco a 12 de maio de 1963 pôs fim a esse ministério e Tozer foi introduzido na glória".[http:awtozerbrasil.blogspot.com.br/2000/11/quem-foi-awtozer.html?m=1].

Ao explanar o capítulo seis de Hebreus e reconhecer que este seja talvez  um dos mais difíceis da Bíblia, Tozer explica que "se tomarmos Hebreus 6 em seu contexto verdadeiro, muito será desvendado. Acredito piamente que a Bíblia não deve ser moldada para se encaixar em posição teológica alguma." (Tozer, 95).

É interessante notar que essas questões teológicas também foram sentidas pelo profeta do século XX e ao que tudo indica, ele estava ciente da controvérsia envolvendo arminianos e calvinistas de sua época. Tozer explica:

"Já me perguntaram se eu sou um calvinista ou um arminiano. Essa é uma questão crucial para algumas pessoas,  e muitas delas precisam saber de que lado da velha cerca doutrinária alguém se encontra. A pressão chega a tal ponto que todos precisam escolher que caminho tomar.  Calvinismo ou arminianismo? Se você decidir ser calvinista, certamente não poderá concordar com o pensamento arminiano. Por outro lado, sendo arminiano, não poderá tolerar qualquer argumento calvinista." (Tozer, 96).

Primeiramente, Tozer explica que já lhe perguntaram se ele era calvinista ou arminiano. Ele afirma corretamente que esta é uma questão crucial para algumas pessoas e é mesmo. Ele acentua essa tensão como a  "velha cerca doutrinária."

Apesar de muitos arminianos e calvinistas considerarem a opinião de Tozer irrelevante para os nossos dias, a verdade é que ela foi bastante útil para sua época. Tozer e muitos dos seus contemporâneos estavam tão envolvidos na obra do Senhor que se sentiram pressionados com tais questões teológicas. Tozer continua:

"Tudo isso, na verdade, é muito perigoso. Seria como se alguém lhe pedisse que escolhesse entre a sua mão direita e a sua mão esquerda. Se você escolher a direita, terá de se livrar da esquerda. Que tipo de contrassenso seria esse? Minhas mãos trabalham muito bem juntas." (Tozer, 96).

Estaria Tozer, propondo um "calminianismo?" De forma alguma! O desejo dele era de extrair aquilo que é proveitoso dos dois lados, ou seja, aquilo que é comum a ambos.

Tozer coloca os dois sistemas como ferramentas que podem ser úteis para o evangelho quando ambas trabalham juntas pela mesma causa. Isto não significa que ele abraçava os dois sistemas como plenamente legítimos e bíblicos. Ele continua:

"Quando alguém aborda esse assunto comigo, costuma me lembrar de um famoso pregador inglês que disse: 'Quando prego, sou arminiano. Quando oro, sou calvinista.' Sempre apreciei essa resposta e creio que ela seja a definição mais correta de mim mesmo e de muitos outros evangélicos convictos. Talvez ele fosse um calvinista duvidoso e um arminiano apologético. No entanto,  minha pergunta  é a seguinte: o que as pessoas eram antes de João Calvino nascer?  Porque não podemos ser simplesmente cristãos?" (Tozer, 96, 97).

É assim que Tozer se define: como um arminiano pregando e um calvinista orando. O desejo do mesmo era simplesmente ser chamado de cristão.

"Faço parte da junta de missões da Christian and Missiony Alliance [Aliança Cristã e Missionária] há muitos anos. Dois dos meus melhores amigos também fazem parte dela. Nós três nos conhecemos há muito tempo. Trilhamos caminhos diferentes, mas nos tornamos bons amigos ao longo dos anos. Um deles é calvinista convicto. Se você for à igreja dele em um domingo qualquer, vai se banquetear com um maravilhoso sermão calvinista. O outro é arminiano- de igual convicção. Se você for à igreja dele em um domingo qualquer, ouvirá um sermão arminiano maravilhoso. Embora meus dois amigos abracem posições doutrinárias diferentes, quando nos encontramos na junta de missões, estamos em completa harmonia. Ambos deixam suas preferências teológicas à porta e unem corações, buscando a mente do Senhor para aquele propósito." (Tozer, 97).

Infelizmente, não tem sido fácil encontrar comunhão e fraternidade na geração de calvinistas e arminianos da atualidade. Não estou querendo censurar o debate sadio nem reprimir aqueles que defendem suas posições teológicas. A questão é que a comunhão cristã tem sido afetada e isso não é bom. Tanto de um lado quanto de outro, há cristãos piedosos e servos de Cristo. Entretanto,  boa parte da  geração atual de calvinistas e arminianos vivem se degladiando mutuamente, sem respeito algum. É muito comum ver esse tipo de comportamento nas redes sociais, inclusive com a utilização de xingamentos contra aquele que pensam diferente. Quando iremos baixar a guarda?  Precisamos combater essa geração que recusa o diálogo em detrimento de ataques abertos contra instituições, pessoas e teólogos.

Tozer prioriza a comunhão! Segundo ele:

"Quando permitimos que nossas preferências doutrinárias determinem com quem teremos comunhão, somos culpados de distorcer e adulterar as Escrituras. Não precisamos fazer isso. Ao examinar a história da Igreja, encontramos grandes cristãos dos dois lados dessa discussão, e isso me leva a crer que esse debate não deva ser tão importante. Não creio que precisemos escolher entre sermos calvinistas ou arminianos. Se assim fosse, um lado estaria errado. Qual deles?" (Tozer 97, 98).

Tozer deixa claro que reconhece ambos os sistemas como cristãos, embora em seus escritos, o escopo teológico se distancie bastante do calvinismo e suas vertentes. Para ele, esse debate não é tão importante como alguns enxergam.

Para fundamentar seu entendimento, ele cita um episódio que aconteceu com John Wesley. Vejamos:

"John Wesley, o fundador da igreja Metodista, era um arminiano irredutível. Ele não tinha tempo para 'tolices calvinistas', como ele mesmo costumava dizer. Li alguns dos seus sermões; ele realmente era um arminiano. Entretanto, a história não termina aí. Em seu leito de morte, sua família e seus amigos estavam reunidos ao seu redor. Então,  eles o ouviram cantar algo bem baixinho. Quando um dos familiares se abaixou para tentar ouvi-lo, ele murmurava um hino. O que você acha que John Wesley estava cantando?
'Louvarei o meu Criador enquanto tiver fôlego. E quando minha voz se perder na morte, Toda minha força será empregada no louvor; Meus dias de louvor jamais cessarão. Enquanto minha vida, meus pensamentos, e meu ser perdurarem,  ou enquanto durar a imortalidade'." (Tozer, 98).

Tozer comenta:

"Quem você acha que escreveu esse hino? Isaac Watts, que era calvinista. Aquele arminiano doente  encerrou seus últimos momento da sua vida com o coração unido ao de um calvinista, cantando: 'Louvarei ao meu Criador enquanto tiver fôlego.' Quando se trata de adorar ao nosso Deus, não há calvinismo ou arminianismo. Tais distinções caem por terra no coração que pulsa em adoração." (Tozer, 99).

Isso é simples de entender. Em seu leito de morte, Wesley não deixou adorar a Deus com um hino de alguém que era calvinista, só porque   o compositor do hino, discordava da posição teológica dele. A unidade cristã está acima daquilo que é incomum a A ou B. Pelo contrário, a unidade se satisfaz naquilo que é comum, bíblico e louvável a Deus.

"Tenho quase certeza de que no Céu não haverá qualquer separação entre calvinistas e arminianos. Isso não será permitido além das portas peroladas. Amigos meus da Pensilvânia costumam brincar comigo quando eu estou lá, dizendo que haverá apenas uma denominação no Céu- a dos irmãos em Cristo. É difícil argumentar contra isso." (Tozer, 99).

Eu gostaria de pegar a primeira frase  de Tozer e lançar uma perspectiva pessoal em cima dela. Se no céu não haverá separação entre calvinistas e arminianos, porque aqui na terra nos cercamos  com trincheiras teológicas e deixamos de cultivar a harmonia? Por acaso, não estamos caminhando para o mesmo céu?  Se não conseguimos viver pacificamente com os que pensam diferente de nós, aqui e agora, o que faremos quando chegarmos lá em cima? Às vezes, vejo alguém nas redes sociais afirmando que no Céu,  todos seremos calvinistas. Que pensamento tolo! No céu, todos seremos um com Cristo e tudo que aqui neste tempo presente está obscuro, lá será revelado.

Tozer ainda afirma que: "Se o pregador for um calvinista, você encontrará um bocado de distorções e adulteração em seus sermões. O mesmo se aplica aos arminianos. A minha pergunta é: por que não nos colocamos acima das tentativas de fazer com que as Escrituras apoiem uma ou outra posição doutrinária?  Por que não acreditamos simplesmente na Bíblia? Creio que a fé em Jesus Cristo nos faz suplantar qualquer mesquinhez que encontremos ao nosso redor." (Tozer, 99).

Em seguida, Tozer faz uma explanação de Hebreus 6.4-6, mostrando as distorções que muitos fazem desse capítulo e traz uma boa explicação que em geral, também é dada pelos arminianos clássicos a respeito dessa passagem. Finalizando seu ponto de vista, Tozer alerta para o perigo relacionado à distorção das verdades bíblicas. Com base nisso, ele argumenta:

"Outro perigo associado à distorção das verdades bíblicas é que,  muitas vezes, ela segrega os cristãos. Se você for calvinista, por exemplo, será constantemente admoestado a manter-se longe dos arminianos e vice-versa: 'Sou calvinista porque esse é o único caminho verdadeiro'. Todavia, se o calvinismo é a verdade absoluta, os arminianos devem ser hereges de primeira ordem. Qualquer coisa que divida a comunhão dos cristãos é nossa inimiga. Tudo aquilo que se levanta em nosso meio precisa ser renunciado pelo que é entregue aos Senhor. De modo algum estou sugerindo que não devemos ter opiniões pessoais, no entanto, se isso nos divide e nos afasta do bom convívio fraternal, algo está errado. Precisamos colocar nossas opiniões nas mãos do Senhor." (Tozer, 107).

O argumento final de Tozer é um apelo à fraternidade e a paz. Nenhum tipo de segregação teológica era vista com bons olhos por ele. Nas últimas linhas, é notável o desabafo deste homem de Deus:

"Acredito que o pior perigo disso se reflita em nossa projeção para o mundo. Em vez de pregarmos o Evangelho para alcançar os perdidos,  somos tentandos a desenvolver uma ou outra linha teológica. De que adianta isso? O mundo não precisa do arminianismo ou do calvinismo; ele precisa de Jesus. Portanto,  qualquer assunto que desvie o foco da nossa atenção e das nossas energias para exaltar Cristo, precisa ser encarado de imediato." (Tozer, 107).

O conselho de Tozer deve ser entendido de forma correta. Se a controvérsia arminiana x calvinista não tem como propósito principal glorificar a Cristo e fazer sua obra, ela se torna um empecilho para o evangelho. Muitos tem deixado a praticidade bíblica para se esconder atrás das redes sociais e cultivar contendas e intrigas. Ora, essas coisas não devem ser encorajadas por nenhum cristão. Nossas forças e energias devem ser aplicadas prioritariamente na obra de Deus. Vidas estão precisando do evangelho e  será que Deus pode contar conosco, assim como contava com A.W. Tozer?

"Cristo não sofreu na cruz para que pudéssemos brigar por causa de nossas posições doutrinárias. Ele não ressuscitou dos mortos para que nos gabássemos frente a outros irmãos." (Tozer, 108).

É interessante a forma como Tozer se posicionou diante de toda essa questão. Ele só queria fazer a obra de Deus em paz, sem precisar se rotular. Embora não se defina como um arminiano, as obras de Tozer revelam claramente que ele não se simpatizava com o calvinismo e tinha uma visão muito próxima daquilo que o arminianismo ensina. Tozer não está sozinho nessa. Essa foi uma prática comum no passado e ainda hoje é repetida por certos cristãos. Muitos preferem ser conhecidos como biblicistas e recusam os rótulos.

Por outro lado, outros gostam de rotula-se e nós temos que respeitar isso. Tanto aqueles assumem uma posição teológica explicitamente quanto aqueles que não fazem isso, merecem nosso respeito e compreensão.

Por fim, o que aprendemos com Tozer é memorável e digno de crédito. Para ele, não faz muito sentido alguem se dizer calvinista ou arminiano se esse alguém não se comporta como um cristão. Que possamos encher o nosso coração das coisas de Cristo e que Deus nos ajude em tudo. Amém  

Referência bibliográfica:

TOZER, A.W. Fé transformadora: permita-se ser impactado por Deus. Rio de Janeiro Rio: Graça,  2015.